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Utilização de álcool gel ou líquido na praia pode ser extremamente perigoso, diz especialista

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Após a flexibilização de sua comercialização, a partir dia 19 de março passado, pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), o álcool líquido a 70% e mesmo o álcool gel, têm se tornado protagonistas do aumento de casos de queimaduras no país, tomando a frente de ocorrências com líquidos quentes, água quente, chá quente e café quente. Tanto no ambiente doméstico como em ambientes externos, o produto deve ser utilizado com moderação. Para especialistas, as pessoas devem evitar passar álcool líquido ou em gel no corpo quando estiverem na praia, por conta da exposição ao sol . O produto causa irritação na pele e as pessoas, após sua utilização, correm o risco de desenvolverem manchas ao se exporem ao sol.

Para o dermatologista Marco Antônio Almeida, secretário-geral da Sociedade Brasileira de Queimaduras (SBQ), após a liberação da Anvisa da comercialização do álcool líquido a 70% como produto de higienização devido a pandemia pela covid-19, começaram a surgir muitos casos de acidentes ocasionados pelo uso indevido do produto. “Hoje no Brasil, contabilizamos 550 internações devido queimaduras com álcool, seja em gel ou líquido. Isso é algo que precisamos cuidar”, pontuou.

Conforme Marco Antônio, as pessoas não precisam ficar neuróticas a ponto de passar álcool em todo o corpo, como têm ocorrido. Frisa que isso pode causar danos à saúde e ao mesmo tempo coloca a pessoa em sérios riscos, caso entre em contato com produtos inflamáveis. “Na beira da praia pode haver churrasquinho ou outras coisas inflamáveis. Por isso, utilizar álcool gel no corpo inteiro é extremamente perigoso. A pessoa pode pegar fogo. O mais arriscado é que a chama não é visível. A grande orientação é que as pessoas reservem o álcool para limpar superfícies e objetos e utilizar água e sabão para higienizar as mãos, deixando o produto por uns 20 a 30 segundos na pele, para fazer efeito contra o vírus”, comenta.

Outra dica, segundo ele, bem importante, é quanto o acondicionamento do álcool. Ele sugere que as pessoas evitem utilizar vasilhames grandes e sempre coloquem o produto em vasilhames pequenos, pois em caso de acidente, com o volume menor do produto os riscos de maiores sequelas também diminuem. “E sempre tirar do alcance das crianças. As crianças não devem ter acesso a álcool. Os responsáveis devem sempre guardar e estocar o produto em prateleiras altas e usar vasilhames menores para evitar acidentes maiores”, assevera.

Ceará

Centro de Tratamento de Queimados (CTQ), do Instituto Dr. José Frota (IJF), verificou logo no início do isolamento social, aumento de 38% no número de queimaduras causadas pelo uso de álcool gel e álcool liquido a 70%. A reportagem não conseguiu números atualizados. A maior preocupação é com relação ao álcool líquido, por ser mais volátil. O alerta também serve para o uso indiscriminado de álcool em gel que apresenta uma chama transparente que queima igualmente ao álcool líquido. Por isso deve também ser usado com muito cuidado.

Segundo orientações do CTQ, a forma correta de usar o álcool gel é aplicar uma pequena quantidade na palma da mão, para o efeito de desinfecção, com movimentos de passagem por toda a superfície. Além disso, deve-se evitar o uso próximo de locais inflamáveis, aguardar a evaporação do produto antes de se aproximar destes locais e evitar o uso em excesso.

O relações públicas do Corpo de Bombeiros do Ceará, major Roberto Giuliano Rocha disse que o álcool é um forte aliado contra o coronavírus, mas é preciso ter cuidados para que esse aliado não se torne um vilão. “Ao utilizar o álcool, seja gel ou líquido, é preciso esperar que ele seque completamente e somente depois pode voltar a sua rotina normal. Isso deve ser seguido em todos os ambientes, inclusive na praia. Caso a pessoa use o álcool e vá manusear em seguida produtos inflamáveis, corre o risco de ter queimaduras graves,” assevera.

Ele esclareceu, também, que o o álcool em gel ou liquido não têm combustão espontânea e não explodem dentro de um carro, por exemplo, devido a luz do sol, como foi amplamente divulgado nas redes sociais. “Para que isso ocorra é preciso ter uma fonte de calor externa, ou uma fagulha ocasionada por um curto circuito no carro,” avaliou.

Retrocesso

Quando houve a proibição da venda de álcool líquido no país, há cerca de 9 anos, houve uma diminuição de cerca de 30% da incidência geral de queimaduras no período, mostrando que o álcool é um importante agente etiológico que causa queimaduras. Com o retorno do seu uso essa redução começa a diminuir. Mesmo com a medida, o Brasil continua sendo o único país do mundo que tem essa estatística alta de queimaduras por álcool. Isso ocorre porque as pessoas utilizam culturalmente como produto de limpeza de fácil acesso e barato, ser ter noção da gravidade.

Consequências

A queimadura, quando não leva ao óbito, pode ocasionar uma doença crônica. A pele queimada não protege do sol eficientemente, precisa ser hidratada constantemente, pode causar câncer, se o paciente tiver queimaduras graves e ficar internado, tem grandes chances de ficar com doenças na parte imunológica, cardíaca ou neurológica por muitos anos. Além de ficar com limitações funcionais e de autoimagem que podem afetar o paciente emocionalmente e psiquiatricamente.

A Sociedade Brasileira de Queimados (SBQ) defende a retiradas do álcool do ambiente doméstico, e que as embalagens sejam mais seguras e identificadas como agente perigoso. Defende ainda a adoção de medidas de normatização e leis que limitem o acesso ao produto. Além de criar campanhas educativas com a população ensinando e alertando sobre o perigo de lidar com a substância altamente inflamável que causa acidentes graves, especialmente em crianças e idosos que são pessoas mais vulneráveis a esse tipo de acidente.

Cuidados em casa

  1. Redobrar a atenção com crianças e idosos na cozinha;

  2. Não segurar criança no colo enquanto estiver ingerindo líquido quente ou cozinhando;

  3. Mantenha o cabo das panelas para o lado de dentro do fogão;

  4. Manter o registro do gás fechado, quando o fogão não estiver sendo utilizado;

  5. Verificar se não há vazamentos em cabos e válvulas do gás de cozinha;

  6. Evite usar líquidos inflamáveis na cozinha;

  7. Fios desgastados ou desencapados podem causar choques elétricos e incêndios

Serviço

Centro de Tratamento de Queimados

Instituto Dr. José Frota – Rua Barão do Rio Branco, 1816 – Telefone: 3255 5000

Com informações da CMFor por Marcelo Raulino – Foto: Érika Fonseca

Rodrigo Kawasaki

Rodrigo Kawasaki

Editor-chefe da Público A.